Bernarda Gallardo já estava na fila da adoção quando leu num jornal que um bebé recém-nascido tinha sido encontrado numa lixeira. Depois disso, Bernarda continuou em pensar em adotar um bebé, mas desta vez, morto. Este evento ocorreu em 2003
A menina que Bernarda adotou recebeu o nome de Aurora. Ela tinha sido abandonada numa lixeira em Puerto Montt, no sul do Chile. Depois de alguns meses, ela pôde finalmente, enterrar o bebé, o que ela achava como sendo o mais decente a fazer. Bernarda refere que chamou ao bebé de ''Aurora'', porque, para ela, o bebé era ''um pequeno raio de luz que mostrava que a escuridão não era a única possibilidade.''
Um dos seus objetivos é chamar à atenção da dificuldade das mães chilenas. O aborto é proibido no Chile e os hospitais não possuem nenhum compartimento onde os bebés possam ser deixados sem que o nome da mãe seja registrado.
Tudo começou a 4 de abril de 2003, quando o cadáver de Aurora foi encontrado num saco do lixo preto. Quando soube esta notícia, Bernarda ficou horrorizada e quis, imediatamente, dar um funeral decente à criança. Ela pensou, inclusive, que este poderia ter sido o seu bebé.
Quando tinha 16 anos, Bernarda foi estuprada e ficou grávida. Teve de criar o bebé sozinha. Ela questiona-se do porquê de as mães deixarem os seus filhos à deriva, quando ainda bebés.
As estatísticas oficiais revelam que cerca de 10 bebés são abandonados no lixo, no Chile, a cada ano, mas como as lixeiras não são abertas a
o público, pensa-se que talvez sejam mais do que nos é dado a conhecer.
O processo de adoção demorou muitos meses, devido a vários assuntos de labor burocrático. No Chile, se um corpo não é reclamado pela família, é considerado como um dejeto humano, que iria para o lixo, como qualquer outro objeto. Também era necessário que existissem provas de que o bebé chegou a sair do útero da mãe, para que pudesse ser considerado como um ser humano e fosse enterrado. Então, o corpo de Aurora teve de ser examinado.
É normal que os médicos digam que o bebé morreu no parto, para defender as mães. O aborto é ilegal no Chile, sejam quais forem as situações e se alguém é visto a abandonar o seu filho ou a deixá-lo no hospital, pode ser condenado até 5 anos de prisão.
Inicialmente, o juiz achou que Bernarda era a mãe biológica do bebé e que estava agora arrependida de o ter abandonado. No entanto, ela conseguiu convencer o juiz das suas boas intenções. Este comentou inclusive que nunca tinha conhecido um caso de adoção de uma criança morta no Chile. O juiz afirmou que a decisão de Bernarda era a melhor a tomar.
Passaram-se meses até que Bernarda pôde, finalmente, receber a guarda de Aurora para a enterrar. No funeral, 500 estavam presentes, que acompanharam a história desde o início, pelo jornal.
Eis que, no dia seguinte ao do enterro de Aurora, surgiu a notícia de que outro bebé tinha sido deitado para o lixo. Bernarda ficou triste e não acreditava que todo o seu esforço tinha ido em vão.
Porém, ela considerou em enterrar este bebé (que foi chamado de ''Manuel''), tal como fez com Aurora.
Ela começou por afixar cartazes nas lixeiras de Puerto Montt a dizer para ninguém deitar bebés para o lixo e relembrou que dois bebés foram encontrados no lixo num curto período de tempo.
Ela acha que, atualmente, as coisas estão mais diferentes, com informações mais acessíveis sobre abuso doméstico e mais conselhos sobre planeamento familiar.
Coincidentemente, a história da sua própria família também possui uma ligação com bebés abandonados (a sua bisavó foi encontrada na escada de um convento italiano). Bernarda quer que as mulheres chilenas que não possam cuidar dos seus filhos possam deixá-los em locais seguros para serem adotados. Ela sugere áreas com estas funções em hospitais.
Nos 12 anos que passaram desde o enterro de Aurora, Bernarda adotou e enterrou outras três crianças: Manuel, Victor e Cristobal. Atualmente, ela está a tentar fazer a mesma coisa com outra menina, Margarita. Ela quer dar-lhes "dignidade e um local para descansarem em paz".
A história de Bernarda inspirou um filme, ''Aurora'', do diretor chileno Rodrigo Sepulveda, que estreou no ano passado e recebeu vários prémios.
Adaptado de: noitesinistra
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